Atualmente cerca de 80% dos fertilizantes usados pela agricultura no Brasil são importados. Dados da Globalfert, divulgados pela CNN Brasil, mostram que 23% do total vem da Rússia e também da Ucrânia. Se, por um lado, a guerra entre os dois países está afetando os preços de uma série de produtos, por outro, essa escassez e preço alto trazem consigo uma oportunidade de crescimento ao nosso país.
Em entrevista à CNN, o Diretor-executivo do Sindicato Nacional das Indústrias de Matérias-Primas para Fertilizantes (Sinprifert), Bernardo Silva, disse que o setor de fertilizantes no Brasil tem capacidade para produzir 13,95 milhões de toneladas por ano, mas produz efetivamente apenas 6 milhões.
“Enquanto temos no país um ambiente institucional competitivo que privilegia e subsidia importação, as empresas alocam seus recursos seguindo esse cenário de competitividade e rentabilidade”, disse Silva. Segundo ele, as maiores produtoras de fertilizantes são multinacionais. Elas designam recursos para produção em alguns países de acordo com a rentabilidade.
Para o profissional, os custos de produção e maquinário, os problemas de logística e o preço elevado da energia elétrica são outros empecilhos para que a produção não seja feita em terras brasileiras. Assim, importação ainda acaba sendo mais barata.
De acordo com Juliana Lemos, analista-chefe do Globalfert, existem dois tipos de empresas no setor de fertilizantes. As produtoras, que se encarregam das matérias-primas, geralmente nutrientes como nitrogênio, potássio e fósforo, usadas em fertilizantes. E as montadoras, que compram esses nutrientes prontos e “montam” os fertilizantes. Há também aquelas que fazem as duas atividades.
“O Brasil é uma potência agrícola, então usamos a maioria dos tipos de fertilizantes que existem”, disse Lemos. Ela lembrou ainda que o Brasil produz principalmente potássio, usado em uma série de fertilizantes, mas que mesmo assim não é o suficiente para atender à grande demanda do agronegócio.
Outro estudo da Globalfert mostrou que em 2021 pouco mais de 70% do mercado de fertilizantes NPK (que contém nitrogênio, fósforo e potássio) do Brasil era controlado por três empresas. A maior é a Mosaic, com 28%, originária dos Estados Unidos. Em seguida a Yara, de origem europeia, com 23%, e a Fertipar, com 22%, empresa nacional, fundada no Paraná.
Mas as estrangeiras ainda superam as nacionais. A suíça Eurochem, por exemplo, adquiriu entre 2020 e 2021 duas grandes companhias nacionais, a Fertilizantes Tocantins (13%) e a Heringer (4%). Ainda há a Cibra, com 5% de participação, e que faz parte do grupo norte-americano Omimex.
Juliana afirma que essa dependência externa é um problema antigo. “Teve influência do baixo investimento em indústria ao longo de muitos anos, falta de incentivo, não ter direcionamento claro até por parte de governos sobre a importância no Brasil”, revelou. “Temos produção agrícola há muito tempo, mas o crescimento exponencial foi rápido e recente, não estávamos preparados para toda essa demanda”, acrescentou ela.
A profissional ainda diz que essa demanda por fertilizantes está favorável no Brasil. Contudo, é um desafio grande para manter o fornecimento de matérias-primas para atender todo o setor. “A expectativa é de mais vendas, mas é um grande desafio. Vai demandar estratégias certeiras para garantir o fornecimento”, disse.
(Com informações da CNN)