Você já ouviu falar da agricultura molecular? Originária do inglês “molecular farming”, essa expressão diz respeito à aplicação de técnicas de engenharia genética em planta que tem interesse biomédico ou industrial. Uma empresa canadense, está utilizando a técnica para produzir as chamadas agro-vacinas.
A agricultura molecular é capaz de revolucionar tanto a maneira como as vacinas são feitas, quanto o próprio agronegócio. A empresa canadense Medicago está em fase final de testes clínicos de uma vacina sintetizada em plantas para combater a Covid-19. De acordo com a empresa, o imunizante imita a camada externa do vírus para estimular a resposta imunológica.
Quais são as vantagens das agro-vacinas?
As agro-vacinas podem trazer diversas vantagens. Os cientistas garantem, por exemplo, que é possível adicionar as moléculas das vacinas nas moléculas das plantas. Assim, os imunizantes estariam presentes nas frutas e sucos. Outro benefício evidente é acelerar a produção de vacinas.
A possibilidade de criar novos caminhos para tornar a produção de imunizantes é um dos objetivos da agricultura molecular. Com ela, inclusive, é possível transformar plantas inteiras em biorreatores naturais.
Sobre a agricultura molecular
Concebida pela primeira vez em 1986, a agricultura molecular ganhou impulso na década passada, quando o FDA (Food and Drug Administration, equivalente à Anvisa nos Estados Unidos) aprovou a primeira e única proteína terapêutica derivada de plantas para humanos.
O medicamento visava o tratamento da doença de Gaucher, um distúrbio genético que impede as pessoas de metabolizar gorduras. Contudo, para um grupo de pesquisadores, isso foi apenas o começo.
Em um artigo publicado em agosto na prestigiosa revista Science, os cientistas Hugues Fausther-Bovendo e Gary Kobinger defendem que as plantas há muito tempo são um recurso esquecido para a biofabricação. “A agricultura molecular pode ter um impacto considerável na saúde humana e animal”, disseram os autores.
Cultivo de vacinas
As plantas são opções sustentáveis e ecologicamente corretas. Além disso, elas são imunes às formas comuns de contaminação de outros processos de fabricação de medicamentos. As proteínas ou vacinas terapêuticas resultantes ficam em suas sementes ou outras células e podem ser facilmente desidratadas para armazenamento, sem necessidade de freezers ou logística estéril.
No caso da vacina canadense “à base de plantas”, a empresa produziu em apenas 20 dias uma partícula semelhante ao vírus SARS-CoV-2 após a obtenção de seu código genético e passou a multiplica-la em plantas. A partir daí, iniciou os testes pré-clínicos. Em seguida, foi autorizada aos testes clínicos das fases 1 e 2 e, recentemente, da fase 3.
A Medicago é líder em tecnologia à base de plantas e já demonstrou antes a capacidade de responder a uma pandemia de gripe. Em 2009, por exemplo, a empresa produziu uma vacina contra o H1N1 em apenas 19 dias.
Medicamentos comestíveis
Outros desdobramentos da “agricultura molecular” são transformar as plantas em medicamentos comestíveis. Em vez de injeções de insulina, as pessoas com diabetes podem comer, uma fruta, por exemplo. Em vez de vacina contra a gripe no braço, você poderia comer milho ou tomar um suco de laranja imunizante.
Porém, já houve fracassos em tentativas similares. Uma série de vacinas comestíveis à base de plantas contra Hepatite B, raiva e norovírus não teve os resultados esperados. “A proporção de indivíduos com resposta imune foi decepcionantemente, menor que em ensaios clínicos de vacinas padrão”, disseram os autores.
No entendo, com o surgimento do CRISPR e outras ferramentas de edição de gênica, “vacinas comestíveis feitas com plantas agora podem gerar respostas imunológicas significativas”, revelaram os pesquisadores.
Vários testes recentes tentaram usar uma injeção de vacina como a primeira dose, com uma vacina comestível à base de plantas derivada de arroz, cereais ou milho como reforço. Por enquanto, a terapêutica à base de plantas comestíveis deste tipo ainda está em fase de desenvolvimento pré-clínico.
Investimento
Por conta das inúmeras possibilidades da agricultura molecular, a DARPA (Agência de Defesa para Projetos de Pesquisa Avançada) vai financiar três grandes instalações para otimizar vacinas feitas com plantas a partir de biologia sintética e edição gênica (CRISPR).
(Com informações de Ag Evolution)