Entender os ambientes produtivos como sistemas de produção, que englobam não somente cada fator de forma isolada, mas a integração de todos os constituintes do sistema, é um desafio constante. A planta pode ser compreendida como um componente de produção que tem forte relação com a sua genética, desenvolvida de acordo com a espécie vegetal, e com fatores bióticos e abióticos.
No entanto, entende-se que o solo deve ser um ambiente preparado para receber a semente que carrega todas estas impressões genéticas e que resultará em uma nova planta, e fornecer condições químicas, físicas e biológicas para seu desenvolvimento.
O termo qualidade do solo tem algumas definições. Pode-se definir como a capacidade do solo funcionar, dentro dos limites dos ecossistemas naturais ou manejados, para sustentar a planta e a produtividade animal, manter ou melhorar a qualidade do ar e da água e apoiar a saúde humana e a habitação (Doran & Parkin, 1994; Karlen et al., 1997).
Os componentes químico, físico e biológico do solo interagem e interferem diretamente no desenvolvimento, sanidade e produção do vegetal. A qualidade do solo tem influência direta na manutenção e sustentabilidade dos ambientes de produção. Desta forma, empregam-se indicadores de qualidade do sistema de produção, para que seja possível verificar a evolução e o desempenho dos manejos empregados nestes ambientes, que terão reflexos na produtividade das culturas e na construção do sistema produtivo.
A integração dos indicadores de qualidade de solo é necessária, pois o solo é um ambiente com elevada complexidade, dinâmico e heterogêneo. A observação isolada destes indicadores não fornece informações suficientes para explicar a perda ou ganho potencial dos cultivos de determinado solo (Carneiro et al., 2009).
Frequentemente utilizam-se os indicadores físicos de solo como, densidade, porosidade total, e suas divisões em macroporosidade e microporosidade, além da avaliação da resistência à penetração, que simula a força exercida pelo sistema radicular para se desenvolver.
Essas avalições nos informam o quanto o solo está aerado, ou seja, sua capacidade em ser ocupado por água e gases, e fornecer um ambiente para o desenvolvimento de raízes em profundidade e volume. Quando temos um solo com elevada densidade e baixa porosidade, consequentemente, teremos dificuldade no desenvolvimento radicular e menor infiltração e retenção de água no solo.
Com a escassez ou o menor armazenamento de água no solo, impactos também serão observados nos indicadores químicos: valores de pH, matéria orgânica, fósforo e potássio disponível na solução do solo, e saturação de bases no solo.
Essas propriedades podem sofrer interferências ligadas a estrutura física do solo e aos níveis de água. O desenvolvimento radicular tem relação direta com a quantidade de água e nutrientes do solo, visto que as raízes se desenvolvem com as principais finalidades de sustentação da planta, absorção de água e nutrientes, e conexão com os microrganismos do solo e formação da rizosfera.
Sendo assim, os indicadores biológicos são muito importantes para nos demonstrar o quanto a biologia do solo está ativa e funcional. Os chamados bioindicadores do solo englobam avaliações como respiração basal, carbono da biomassa microbiana, atividade enzimática dos microrganismos, índices como o quociente metabólico, diversidade de Shannon e até informações relacionadas a abundância e a distribuição das populações microbianas do solo. Também são avaliados alguns bioindicadores relacionados a macrorganismos.
Os bioindicadores microbianos são extremamente sensíveis ao manejo do sistema solo, sendo, portanto, utilizados para verificação da qualidade do solo, e indicativos de saúde do mesmo. A relação dos indicadores biológicos é direta com os demais indicadores, físico e químico.
Visto que em um ambiente que o desenvolvimento radicular e consequente, desenvolvimento da planta é favorecido, nota-se consistência nos indicadores avaliados, resultando em eficiente entrega de produtividade dos cultivos.
A construção do sistema solo integrando os componentes físico, químico e biológico, resulta em equilíbrio do ambiente de produção, disponibilização de água e nutrientes, desenvolvimento radicular favorável e fornecimento de condições favoráveis para desenvolvimento vegetal, com consequente resposta produtiva.