Pecuária digital e seus impactos nos sistemas produtivos

A consolidação do sistema de inovação constituirá importante vantagem competitiva para a produção nas economias emergentes, rompendo as fronteiras entre as ciências tradicionais pelos avanços em biotecnologia, tecnologia da informação e comunicação (TIC), automação, transformação digital.

Já se vive na era dos sensores, basta olhar ao seu redor ou mesmo no seu celular para perceber. A Internet das Coisas (Internet of Things) já é uma realidade e apesar de muitos utilizá-la, poucos sabem para que serve, cujo princípio se baseia em sensores e receptores nas “Coisas” para que estas interajam entre si com o propósito de melhorar a eficácia do trabalho ou mesmo a qualidade de vida. Essa tecnologia permite que os monitoramentos passem de manuais, escassos e pontuais, quase sempre imprecisos, para automáticos, contínuos e em tempo real, o que muda tudo.

Trabalho realizado em parceria entre a Embrapa, o Sebrae e o Inpe revelaram que 84% dos agricultores brasileiros já utilizam ao menos uma tecnologia digital como ferramenta de apoio na produção agrícola. O uso de ferramentas para comercialização, interesse por soluções digitais, gargalos em infraestrutura de conectividade e falta de conhecimento sobre as tecnologias disponíveis são alguns tópicos extraídos da pesquisa. Incentivar a conectividade no campo é essencial para garantir o aumento de produtividade.

Na pesquisa colocaram nos primeiros lugares da lista de desejos as soluções para melhorar o planejamento e a gestão da propriedade, que devem vir principalmente por meio de aplicativos e plataformas web.

São soluções com potencial de provocar grande impacto nos sistemas produtivos, em termos de aumento da produtividade, eficiência e redução de custos, qualidade da produção, redução de impacto ambiental e acesso ao mercado.

Nas macrotendências mundiais citadas pela FIESP em 2020, estão as mudanças no padrão de produção: Insumos do Agronegócio; Agricultura de precisão (envolverá U$ 4,5 bi); Biotecnologia genômica; Nanotecnologia; Automação e robótica; Plasticultura para controle das variações climáticas. Já vivemos a quarta revolução industrial!

Entre as dez tecnologias mais promissoras, segundo o Conselho de Competitividade dos Estados Unidos em parceria com a Deloitte, estão a Análise Preditiva – que utiliza uma variedade de técnicas estatísticas, matemáticas e analíticas, big data, criptografia, para prever eventos futuros ou comportamentos baseados em dados passados; os Produtos Conectados e Inteligentes (IoT); e as Fábricas Inteligentes (IoT) –  que, como visto referem-se à fusão de software, sensores e conectividade de rede que permite a interação digital entre objetos e máquinas.

A robótica avançada, a Inteligência Artificial e “Machine Learning”, a realidade aumentada, a tecnologia que adiciona visão de computador e reconhecimento de objetos para tornar a informação interativa e manipulável pelo usuário. A realidade aumentada engrandece o mundo ao redor do usuário, apesar de as vezes assustar.

Impacto e aplicação das tecnologias futuras na pecuária

A convivência com várias inovações existe há anos, como a mecanização e automação (robotização). Pesquisadores do McKinsey Global Institute concluíram que a transformação digital e automação se posicionarão predominantemente no mundo da agricultura e da alimentação.

Em 2050, sete em cada dez pessoas viverão nas cidades. Dia a dia, a mão de obra rural tornar-se-á escassa e exigirá qualificação. Máquinas e equipamentos serão imprescindíveis para garantir a segurança alimentar no futuro.

A automação trará ganhos importantes em eficiência e precisão, ajudando a agricultura a superar práticas pouco sustentáveis. A metade de todas as atividades desempenhadas hoje por trabalhadores poderão ser automatizadas até 2050. No Brasil, o potencial de automação na agricultura é de 49%, representando 7,9 milhões de empregos.

Neste contexto, que tecnologias agrícolas teremos disponíveis para enfrentar esse mundo digital e regado a sensores? Drones, Satélites, Ordenhas robóticas, Termografia, Balanças e Cochos automáticos com sensores de controle de consumo e de resíduo! Se empregar todos sensores hoje disponíveis em uma vaca leiteira, teremos a aparência de um robô leiteiro (medidores de toda natureza: ruminação, locomoção, pH do rúmen, aferidores de metabólitos, temperatura, estro, entre outros tantos).

Plataformas tecnológicas avançadas em que balanças eletrônicas posicionadas estrategicamente no cocho ou no bebedouro coletam dados a distância sobre a evolução da composição química do alimento e do peso dos animais. Sistemas baseados em inteligência artificial acompanham o ritmo de engorda e geram alertas sobre o momento ideal do abate.

Outra inovação em desenvolvimento nos laboratórios da DSM, especializada em nutrição animal, em parceria com a Universidade de Wisconsin, USA, é um sistema de câmeras 3D para estimar o crescimento e ganho de peso de bovinos. A mesma Universidade criou um sistema para manejo de cocho em confinamento que avalia, por meio de fotos, a quantidade e qualidade do alimento ofertado e o comportamento dos animais ao longo do dia.

Hoje, essa análise é feita diariamente e exige a presença de um operário ou técnico, com base na observação do volume de alimento que sobrou no cocho, sem ter conhecimento de quantos animais se alimentaram ou não, nem mesmo se havia alimento disponível, o que pode gerar perda de peso durante a engorda.

A inovação é monitorar em tempo real se o cocho ficou sem alimento e sugerir a quantidade precisa de comida a ser fornecida, otimizando o ganho de peso dos animais. Mas, para os sistemas a pasto? Ainda predominante no Brasil como a principal fonte barata de nutrientes, que tecnologias inovadoras estão a surgir? Dispositivo eletrônico para avaliar o peso, o consumo de alimentos e de água, situação de conforto térmico e bem-estar, cerca virtual, são exemplos.

A manutenção de altos níveis de produção a pasto depende da oferta de forragem em quantidade e qualidade, máxima extensão da estação de pastejo, conforto e uso racional de suplementos.

Na rotação diária dos piquetes para manter a qualidade do pasto deve-se utilizar cercas tradicionais ou elétricas: as primeiras são caras para instalar e manter e não são de todo versáteis, exigem manutenção e sua baixa flexibilidade impedem um manejo racional. Além disso, cercas de madeira ou arame podem causar ferimentos aos animais. As elétricas são mais versáteis, apesar de exigir um ou mais operadores para mover e delimitar diferentes parcelas.

E as cercas virtuais: seria uma solução? Já testado em vários países com diferentes espécies, o sistema usa uma coleira para gerenciar o movimento do rebanho via GPS, computação em nuvem e software on-line em substituição às cercas físicas. O pecuarista estabelece limites de uma rede no mapa de seu smartphone e, quando um animal se aproxima da “cerca virtual’, a coleira dá alertas sonoros e recebe um estímulo elétrico, como acontece com os sistemas elétricos tradicionais.

Cada animal usa uma coleira que aciona um sinal auditivo de aviso quando se aproxima dos limites de uma rede que foi demarcada previamente por GPS. No entanto, os animais aprendem a associar o sinal de áudio com a descarga subsequente e, depois de um tempo, respondem adequadamente ao som sem ativar o estímulo elétrico. As cercas virtuais poderão ser mudadas de lugar pelo seu dispositivo móvel quando o período de pastejo encerrar atendendo a capacidade de suporte daquele pasto ou piquete virtual. Prático assim!

Novas tecnologias trazem ideias para solucionar velhos problemas de rotina. Se o pecuarista tem problema com o inventário de gado, os animais do rebanho podem ser conectados e saber em tempo real onde está o rebanho, quantos animais tem, o que estão consumindo e com que qualidade e por quanto tempo.

Se o problema for com a capacidade de suporte da pastagem em função de degradação ou nível de fertilização, pode-se redimensionar o cálculo associando o que se espera em termos de produção de leite ou carne por área. São exemplos de como o pecuarista do futuro poderá gerenciar seu negócio, conhecendo com precisão e realidade a rotina do campo em tempo real.

Contudo, a tecnologia 5G tem o potencial de ser a única camada de conectividade necessária para conectar casos de usos diferentes, como as já citadas coleiras de animais, sistemas de irrigação, sensores de equipamentos, câmeras, veículos autônomos e drones. A maioria das fazendas no Brasil ainda não possui cobertura de celular, portanto, os ganhos potenciais ao conectar a força de trabalho e a infraestrutura ainda a vir, podem ter um impacto significativo na produtividade do setor.

FONTE: MILKPOINT

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