Mas afinal o que está acontecendo com a Aerofarms?

Recentemente escrevi um artigo, aqui na minha coluna na Digital Agro, mostrando a maior fazenda vertical urbana do Mundo, uma unidade da Aerofarms, em Dubai.

Alguns dias atrás a mídia publicou algumas matérias mostrando a situação da fazenda urbana americana Aerofarms, como por exemplo: “Em queda vertical, Aerofarms pede concordata nos EUA”.

Outra manchete chamou atenção: Pioneira da agricultura indoor, empresa pediu proteção judicial contra dívidas que podem chegar a US$100 milhões. CEO David Rosenberg renunciou.

A mídia lista alguns pontos para explicar o que aconteceu com a Vertical Farm, sendo alguns deles: elevação dos custos de produção, sobretudo energia, e até mesmo da incidência de pragas em seus ambientes de produção.

Para entender melhor o que está acontecendo com a Aerofarms, elaborei algumas perguntas para os sócios da Pink Farms, primeira e maior fazenda vertical urbana da AL, que está situada em São Paulo Capital. O objetivo é deixar mais claro o que está sendo noticiado e o que realmente está acontecendo na terra do Tio Sam.

Outro ponto é a entender a diferença do mercado e operação americana com a operação brasileira, especificamente a operação da Pink Farms. Vamos lá?

Geraldo Maia, fundador e CEO da Pink Farms, que esteve recentemente no evento Indoor AgTech Innovation Summit, em Nova Iorque, EUA, lista alguns pontos importantes. O primeiro é que com recursos jorrando com rodadas de captação e Valuation alto, para algumas startups que inclusive não haviam entrado na fase operacional, qualquer possibilidade de downround (investimento a um valuation menor que a rodada anterior) ocasionou pânico e fuga de investidores.

A Aerofarms já estava operando comercialmente, mas com valores de faturamento baixos (4 milhões de dólares em 2021) devido a pequena área produtiva implantada, logo com a falha do SPAC em 2021 e com uma mudança no humor no mercado americano em 2022, isso levou a uma dificuldade gigante de levantar mais recursos, principalmente com o retorno estimado aumentando devido a uma elevação no custo de capital no EUA com a taxa de juros passando de 5% a.a..

O segundo ponto, segundo Maia, foi a falta da busca pela excelência operacional, ou seja: como se faz o processo, transplante, qual tamanho de planta é o ideal para a colheita, isso tudo influência, e muito, o resultado da operação. Diferente do que acontece na Pink Farms, por ter um processo com prazo de colheita maior em relação as operações americanas e com o resultado muito mais favorável para a planta, mesmo que com aumento de complexidade operacional, consegue-se aumentar a produtividade por área e por consequência reduzir o custo do cultivo.

Quando falamos do mercado em geral, Maia finaliza com o terceiro ponto importante que foi algumas operações privilegiaram a otimização de automação, sem conhecer profundamente seus processos produtivos, encarecendo o investimento e desprivilegiando o foco em criar uma tecnologia funcional, muitas pularam etapas e investiram pesado, sem analisar o que seria mais viável financeiramente para a operação em pequena escala e só com validação operacional e comercial, levarem isso para a escalada rápida do negócio.

Para finalizar, Maia explica que como o mercado “virou” já que existe menos dinheiro para captação e juros alto, algumas operações sofreram forte revés, mas diversas empresas continuam não só captando, mas colocando novos formatos de funding de pé como a Plenty e Bowery que juntas, anunciaram entre 2022 e 2023 acima de 1 bilhão de dólares de funding através de dívidas estruturadas.”

Mateus Delalibera, também sócio fundador da Pink Farms, explica que o mercado de fazendas verticais nos Estados Unidos é mais desenvolvido principalmente pela quantidade de recursos captados, já que as iniciativas ao redor do mundo tiveram início mais ou menos ao mesmo tempo.

Por terem mais dinheiro disponível, eles conseguiram investir mais tem tecnologia, principalmente no sentido de automação de processos do que no resto do mundo. Se por um lado isso é interessante no sentido de redução de custo operacional, por outro aumenta consideravelmente os custos de investimento para a implantação das fazendas, o que pode inclusive tornar o custo do produto mais alto, em vez de mais baixo.

Para suportar todos os custos de P&D, eles precisam ter um posicionamento bem acima dos produtos convencionais da categoria dos prontos para o consumo, que lá são a maioria. Aqui, por termos menos dinheiro disponível, tivemos que focar em sermos muito mais eficientes na produção, automatizando apenas atividades essenciais, e uma consequência disso é que conseguimos competir com os produtos prontos para o consumo ficando com uma margem mais equilibrada para a empresa.

Já o sócio fundador da Pink Farms, Rafael Delalibera explica que apesar da situação da Aerofarms e de outras fazendas verticais do exterior trazerem certa preocupação e até certa desconfiança em relação ao modelo de produção, existem grandes diferenças entre as estratégias abordadas pela Pink Farms e as de parte das grandes empresas do cenário no exterior. Os grandes volumes investidos nessas fazendas as deixaram confortáveis para gastar muito dinheiro com desenvolvimento sem pensar em obter retorno a curto prazo. Outro pensamento deles era o de buscar o máximo possível de automação de processos.

“Aqui na Pink Farms, sempre tivemos que usar nossos recursos de forma muito consciente e otimizada, buscando sempre o aumento da produtividade, mas dosando o custo-benefício entre buscar mais automação ou continuar utilizando mão de obra humana para determinados processos. Assim, acreditamos que chegamos em um modelo que seja funcional e que consiga gerar retornos financeiros saudáveis para a companhia”

enfatiza Rafael.

Logo, podemos concluir que a diferença dos mercados americano e brasileiro ajudou a Pink Farms, que teve seus recursos utilizados de maneira consciente e otimizada, privilegiando o equilíbrio financeiro mesmo para uma Startup, e preparando um terreno fértil para o crescimento sustentável.

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