A Embrapa, em parceria com a Helix, empresa do grupo Agroceres, desenvolveram um milho transgênico 100% brasileiro. A apresentação das novas cultivares de milho melhoradas com o evento transgênico de milho BTMAX, aconteceu em Patos de Minas, Minas Gerais. A nova cultivar apresenta alta eficácia contra as pragas lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), considerada a principal praga da cultura do milho e broca-da-cana (Diatraea saccharalis).
De acordo com informações divulgadas pela Embrapa. o evento transgênico BTMAX, obtido com a adição de um gene da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt), é resultado de parceria público-privada 100% nacional entre a Embrapa e a Helix e foi aprovado por unanimidade pela CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) em junho de 2022.
“O BTMAX foi tão eficiente quanto a melhor tecnologia existente no mercado e não apresentou nenhum dano em folhas ou no cartucho da planta, mesmo em regiões com alta pressão da lagarta-do-cartucho, como foi o caso de Rondonópolis, no estado de Mato Grosso, que talvez tenha sido o mais impactante para a tomada de decisão da equipe”, explica Cesar Moisés Camilo, pesquisador da Helix.
Ainda segundo o pesquisador, mesmo com a diluição da folha do milho BTMAX em dieta artificial de 25 vezes, 70% das lagartas estavam mortas em sete dias. Ao final de 14 dias, o BTMAX eliminou 99% das lagartas, sendo que 1% restante não completou o ciclo, “um ponto muito importante para o manejo de resistência da proteína”, reforça o pesquisador da Helix. “O milho BTMAX não apresenta resistência cruzada com as proteínas presentes em eventos comerciais que já apresentam quebra de resistência“, reitera Cesar Camilo.
“O BTMAX se apresenta como um produto potente em campo, com alta expressão, e representa um novo modo de ação e uma nova tecnologia. Por isso, a tecnologia é tão disruptiva” (Cesar Moisés Camilo, pesquisador da Helix)
Solução na biodiversidade brasileira
Urbano Ribeiral Júnior, diretor financeiro do grupo Agroceres, reforça o mesmo ponto de vista em relação ao ineditismo da tecnologia. “É um processo feito de forma extenuante pelas empresas concorrentes e você precisa identificar algo inédito, que os outros ainda não tenham feito”, diz. Segundo Urbano, outra explicação decisiva em relação ao desempenho do evento encontra resposta na própria biodiversidade brasileira. “Com os resultados desta parceria, demonstramos que há um diferencial, que é especificamente usar a biodiversidade brasileira para resolver, também de forma específica, problemas das nossas pragas nas plantas cultivadas, pragas do mundo tropical”, comenta. “Acredito que esse foco na agricultura tropical já faz o produto se viabilizar. Acredito nessa razão para o sucesso do primeiro evento, o BTMAX, assim como de outras tecnologias que estão por vir”, adianta.
Urbano também comentou sobre a relevância da ciência brasileira, desde a etapa inicial desse processo com as seguintes fases: bioprospecção de microrganismos e desenvolvimento tecnológico de interesse, identificação de dezenas de cepas de Bt com potencial toxicológico contra a Spodoptera frugiperda, identificação e síntese de centenas de genes, testes de validação, geração de dezenas de eventos de milho transgênico, ensaios em laboratórios, em casas de vegetação e no campo e a seleção de um “evento-elite” promissor.
“Com a aprovação unânime do evento pela CTNBio, referência mundial em excelência técnica, em junho deste ano, o processo de desregulamentação foi iniciado em outros países. Ainda não temos uma previsão para lançamento comercial da tecnologia, que depende muito da parte regulatória. Está aprovada no Brasil, mas como está na cadeia de exportação, ainda precisamos de mais aprovações”, adianta o diretor.
“Consideramos um marco para a ciência brasileira. Apesar de ser uma tecnologia que já havia sido desenvolvida em outros países, somente duas empresas no mundo têm opção para o produtor hoje em dia. É um marco muito importante” (Urbano Ribeiral Júnior, diretor financeiro do Grupo Agroceres)
Banco de microrganismos da Embrapa deverá entregar mais respostas
Newton Portilho Carneiro, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo e líder do projeto do milho transgênico desenvolvido em parceria com a Helix, destaca o trabalho desenvolvido pelo pesquisador Fernando Hercos Valicente, também da Embrapa Milho e Sorgo. “O trabalho do colega pesquisador foi fundamental para identificarmos esse gene. Desde a década de 1990, Valicente vem fazendo coletas de Bts que apresentam enorme biodiversidade de genes para controle de uma série de insetos. Hoje, essa coleção ultrapassa 4.600 cepas e é talvez a maior coleção de Bts coletados em solos tropicais da América do Sul. Se essas cepas, em média, têm de dois a três genes, imaginem a tremenda possibilidade quanto à nossa busca nesse banco para encontrarmos coisas novas”, menciona Newton.
O pesquisador também adianta que a equipe trabalha em um cenário de possibilidades, a partir do acervo depositado no banco de microrganismos da Embrapa, de encontrar novas cepas e construções promissoras de Bt. “Temos plantas no campo já em fase de testes com outros genes tão eficientes quanto o que está sendo apresentado hoje. Isso abre uma porta muito grande para as inúmeras possibilidades que temos”, diz. Newton Carneiro, ao concluir, é enfático: “O produto é muito bom. A planta, com o evento BTMAX, não é atacada pela lagarta”.
Tecnologia disruptiva
Para Frederico Durães, chefe-geral da Embrapa Milho e Sorgo, a apresentação do BTMAX aponta três momentos dinâmicos e interligados – “o da ciência, o da tecnologia e o do mercado. Os desafios relacionados à segurança alimentar para o mundo e o Brasil são enormes. Daí, estamos protagonizando ações para uma agenda de ‘Mais ciência e conhecimento para um mundo com oito bilhões de habitantes’. E como estrutura produtiva de alimentos – pela sua relevância estratégica nesta agenda – ousamos afirmar que o milho que o Brasil faz é commodity, a tecnologia não”, reforça Durães.
“A Embrapa, com foco em uma Plataforma Bio de PD&I, incluindo um Smart Lab, tem produzido iniciativas e movimentos inteligentes e criativos para uma transição de primeira geração para gerações avançadas de bioinsumos, alimentadas por vias biotecnológicas, biologia sintética, edição gênica, bioinformática e inteligência artificial, em alianças estratégicas e acordos funcionais”, explica. “Na teoria e na prática, demonstramos a integração do conhecimento, da tecnologia e do produto para agregar valor e impactos para o agricultor e a agricultura tropical”, afirma o chefe-geral.
“Hoje estamos demonstrando, em um evento de exposição tecnológica de alto nível, de oportunidades negociais e de networking profissional, a lógica da construção, por cocriação e codesenvolvimento, de um evento transgênico que se configura pelas bases científicas em um fenômeno técnico-científico. E estamos fazendo isso com tal grandeza, com tal propósito, que nas alianças que estabelecemos com a Helix, por certo, estamos diante de um potencial enorme também de se tornar um fenômeno mercadológico. É isso que move o mundo de uma ciência com propósito”, destaca Durães.
“Temos algo novo, diferenciado, no mercado nacional. Precisamos da ciência para falar sobre a tecnologia. Focar na ciência e nos seus resultados requer validação percebida. Isso fornece elementos e alimenta as tratativas para uma estratégia de ação negociada, visando o desenvolvimento de mercado” (Frederico Durães, chefe-geral da Embrapa Milho e Sorgo)
“Este é o momento de focar na tecnologia, é o momento da empresa parceira. Neste momento, a Embrapa, aqui representada por gestores, cientistas, negociadores e apoiadores, é absolutamente protagonista e solidária” (Frederico Durães, chefe-geral da Embrapa Milho e Sorgo)
Histórico do desenvolvimento do milho transgênico
O evento BTMAX é resultado de uma parceria público-privada 100% nacional entre a Embrapa e a Helix, empresa do grupo Agroceres. A parceria foi estabelecida no Edital de Seleção Pública Conjunta entre o MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação), o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), com o objetivo de apoiar a inovação tecnológica no setor do agronegócio (Edital Inova Agro – 2013). “Fizemos a parceria com a Embrapa e existia uma linha temática exatamente no tema que queríamos, que é o desenvolvimento de eventos OGMs próprios, e fizemos um plano de negócios com a Embrapa Milho e Sorgo. Para nossa felicidade, essa parceria foi selecionada, com a Finep apoiando a Helix e o BNDES apoiando a Embrapa. Um projeto de muito alto risco, cujo apoio inicial foi extremamente importante. A partir daí começamos a parceria em si”, comenta o diretor financeiro do Grupo Agroceres, Urbano Ribeiral Júnior.
O evento transgênico foi aprovado pela CTNBio durante a 252ª reunião ordinária realizada no último dia 2 de junho. Em vídeo veiculado no canal do YouTube do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, o presidente da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança Paulo Barroso afirma que “o principal diferencial do evento, além das questões tecnológicas específicas, é ter sido produzido por duas empresas brasileiras, sendo uma privada, a Helix, e a outra pública, a Embrapa”.
‘O desenvolvimento desse evento, assim como todo o processo de avaliação de segurança, foi realizado completamente no País. É um marco para a ciência brasileira, que já tinha produzido organismos geneticamente modificados de soja, feijão, eucalipto e agora um de milho”, disse. Ainda segundo o presidente da CTNBio, “o processo foi muito bem instruído, remetendo corretamente às questões de segurança alimentar e ambiental”, reforçou.
Os processos para a liberação comercial do milho transgênico BTMAX em outros países já foram iniciados pela Helix. No Brasil, a data para o início da comercialização ainda não foi definida.
(Com informações da Agência Embrapa)