O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro voltou a cair no segundo trimestre de 2022 (-1,7%), com isso, a queda acumulada do PIB no primeiro semestre chegou a 2,48%, segundo o relatório Cepea.
A redução é devido ao forte aumento dos custos com insumos no setor. Estima-se que a participação do setor no PIB total fique em torno de 25,5% em 2022. Do mesmo modo, foram observadas reduções do PIB no semestre tanto para o ramo agropecuário (2,71%), quanto para o ramo pecuário (1,82%). Na análise semestral, assim como na trimestral, o resultado negativo do PIB do setor agropecuário se deu principalmente ao forte aumento dos custos dos insumos para a produção agrícola (dentro da porteira).
Além dos preços mais altos das matérias-primas agrícolas, outros custos industriais gerais aumentaram. Esse estreitamento de margens nos segmentos de upstream, combinado com a menor produção de soja e outros produtos agrícolas e agroindustriais, explicam a queda semestral do PIB dos agrosserviços do setor.
Preços dos insumos agrícolas garantem o desempenho positivo
O PIB do segmento de insumos agropecuários avançou 31,88%, enquanto o PIB dos insumos pecuários recuou 2,45%. A indústria de fertilizantes e corretivos de solo se destacou no segmento. A alta dos preços dos fertilizantes é observada desde 2021, principalmente devido à redução da oferta mundial do produto.
Variação (%) anual de volume, dos preços e do faturamento insumos 2022/2021 com informações até junho
Defensivos, fertilizantes, sementes, diesel e custos de manutenção são os principais responsáveis pela liderança do Brasil no ranking dos custos de produção da soja. A projeção para as vendas anuais indica alta de 31,51%, em decorrência da alta de 20,1% nos preços reais, na comparação entre iguais períodos.
Apesar da retração real, os preços nominais da ração seguem consideravelmente elevados, próximos aos patamares registrados em 2021. Esse comportamento observado nas indústrias de insumos reflete no desempenho do segmento primário do agronegócio. Especificamente, a elevação dos preços dos insumos agrícolas subiu o PIB do segmento agrícola primário ao implicar forte aumento dos custos.
Forte alta dos custos dos insumos e a retração do PIB
Com a queda de 6,3% no segundo trimestre do ano, o PIB do segmento primário do agronegócio acumulou redução de 8,92% no primeiro semestre, quanto à pecuária primária, o PIB cresceu modestos 0,67%. No caso da agricultura e da agropecuária, conforme destacado anteriormente, a retração do PIB foi influenciada pela forte alta dos custos dos insumos.
No primeiro trimestre de 2022 os preços da pluma atingiram recordes diários consecutivos no Brasil. A Conab aponta que fatores climáticos desfavoráveis à cultura afetaram a produção em algumas regiões de produção expressiva, como Mato Grosso, Goiás e Bahia. Esse aumento foi impulsionado principalmente pelos preços mais altos de fertilizantes e também pelas valorizações de defensivos, combustíveis, sementes e outros.
A procura internacional recuperou de forma relativamente rápida e atingiu níveis quase que históricos. A alta do preço do petróleo e a menor disponibilidade de algodão no Brasil em 2021 também reforçaram a alta. Algumas indústrias ficaram fora do mercado, usando estoque e/ou pluma de contratos a termo, devido a dificuldades em repassar novos reajustes aos manufaturados.
Variação (%) anual do volume, dos preços e do faturamento agrícola 2022/2021 com informações de junho
Para o trigo, o aumento dos preços na comparação entre janeiro e junho de 2021 e 2022 (13,94%) e a expectativa de produção para o ano (19,29%) explicam a projeção de crescimento da receita. Segundo a Conab, as estimativas apontam para uma safra recorde nacional, refletindo a expectativa de maior área destinada à cultura e maior produtividade.
No segundo trimestre de 2022 o preço interno do trigo atingiu recordes na série do Cepea iniciada em 2004. No caso da cana-de-açúcar, os preços reais mais elevados (25,36%) explicam a expectativa de crescimento da receita para 2022 (24,08%). Para a produção, espera-se uma leve queda de 1,02%, o que, segundo a Conab, é reflexo da queda na área de produção de cana-de-açúcar.
A soja é uma das culturas que já era esperada queda de receita de 5,44%, decorrente de uma produção 10,21% menor. No segundo trimestre, o maior superávit da safra 2021-2022 nos Estados Unidos, a baixa demanda externa pelo grão brasileiro e o enfraquecimento dos prêmios de exportação afastaram os consumidores das compras de grandes lotes. Já o arroz, a queda na receita esperada (-28,79%) esteve ligada à redução da produção no ano (-8,35%) e preços mais baixos (-22,30%).
A acomodação dos preços pecuários
A alta dos preços reflete o aumento da demanda interna e externa. No caso da avicultura de corte, a projeção é de crescimento anual de 12,55% no faturamento. Na avicultura de postura, projeta-se também crescimento anual da receita (5,26%), devido à alta dos preços reais. Com relação à pecuária leiteira, o projetado aponta para uma queda de 2,36% no faturamento anual da atividade.
Há um crescimento real de 7,29% na comparação entre o primeiro semestre de 2021 e 2022. O aumento dos preços médios se deve ao acirramento da disputa dos laticínios pela matéria-prima. No que diz respeito à carne suína, a projeção aponta para queda significativa no faturamento anual da atividade (-26,37%)
Variação anual dos preços e do faturamento da pecuária de 2022/2021 com informações de junho
Agroindústria teve nova queda no segundo trimestre
O PIB da agroindústria brasileira teve um modesto aumento de 0,14% no segundo trimestre, mas esse aumento foi insuficiente para reverter a queda observada no primeiro trimestre. Seja na agropecuária, seja na pecuária, vale destacar que os custos industriais devem avançar a taxas superiores à expectativa de crescimento da receita. A demanda doméstica ainda enfraquecida dificulta o repasse desses custos ao consumidor.
Os setores de base agrícola para os quais é esperado crescimento de receita em 2022 são: bebidas, indústria do café, outros produtos alimentícios, açúcar, biocombustíveis, celulose e papel. Para as indústrias de móveis de madeira, produtos de tabaco, têxteis e vestuário e conservas de frutas, hortaliças e outros produtos hortícolas, espera-se uma queda nas receitas.
Na atual safra, o mix de produção continua privilegiando o etanol de cana-de-açúcar, em detrimento do açúcar. Este déficit de produção de etanol será preenchido por um aumento na produção de etanol de milho. No caso do açúcar, a expansão esperada de 5,01% nas vendas anuais é resultado de preços 8,59% maiores, na comparação entre semestres.
Em março, apesar da queda na média mensal, os preços domésticos registraram pequenas altas diárias. Em junho, a queda estava ligada à flexibilidade de algumas usinas, que rebaixaram os valores de suas ofertas. Do lado das compras, a inflação e os juros altos desestimularam as indústrias.
Variação anual do volume, preços reais e faturamento das indústrias agrícolas acompanhadas
Para a indústria de óleos vegetais, a expansão esperada no faturamento (15,85%) reflete aumentos nos preços reais. Segundo a equipe do Soja/Cepea, o aumento expressivo da demanda mundial por óleo de soja levou os preços dos derivados a níveis recordes no Brasil e nos Estados Unidos no primeiro trimestre do ano.
Em junho, o petróleo desvalorizou de forma mais intensa, influenciado pela retração dos preços do óleo de palma e do petróleo no mercado externo. Para as indústrias têxtil e de confecções, as quedas esperadas no faturamento refletem principalmente a menor produção esperada para o ano. No que se refere às agroindústrias de base pecuária, espera-se um leve crescimento no faturamento anual das indústrias de abate e preparo de carne e pescado.
Na indústria de abate e preparo de carnes e peixes, a projeção é de leve alta de 0,23% no faturamento anual. O desempenho do setor reflete o comportamento observado nas atividades de bovinocultura, avicultura e suinocultura. O enfraquecimento da demanda interna por carne bovina e suína se deve ao baixo poder aquisitivo da população e aos altos preços das proteínas.
O preço do leite arrecadado em junho (e pago aos produtores em julho) teve alta significativa, registrando recorde na série histórica do Cepea iniciada em 2004. Tanto no trimestre quanto no acumulado, quedas foram observadas na agropecuária. Esse comportamento reflete os resultados a montante nas cadeias, como a menor produção de diversos produtos agrícolas e agroindustriais.
(Fonte/Créditos: Cepea)