Pouco mais da metade dos brasileiros (52%) está muito preocupada com o meio ambiente, segundo pesquisa de opinião realizada pelo Ipec entre novembro de 2022 e janeiro de 2023. Isto representa uma diminuição em relação a 2021, quando o percentual foi de 61%. No entanto, para a maioria das pessoas são os governos (36%) ou as empresas e indústrias (32%) que podem contribuir mais para resolver o problema das mudanças climáticas. Ao mesmo tempo, (50%) disseram já ter votado em algum político pelas suas propostas para defesa do meio ambiente e apenas 22% dos brasileiros consideram saber muito sobre aquecimento global e mudanças climáticas.
A grande maioria afirmou que costuma se informar, independentemente do assunto, em conversas com familiares, colegas de trabalho e pessoas próximas (79%); por sites da internet (70%); pelo Whatsapp (67%); e por outras redes sociais (66%). De acordo com a pesquisa, 56% se informam pela TV aberta – em 2021, este percentual foi de 62%. Jornais e revistas são a fonte de informação menos citada (27%).
A pesquisa realizada pelo terceiro ano consecutivo a pedido do ITS ouviu, por telefone, 2.600 pessoas com 18 anos ou mais entre os dias 25 de novembro de 2022 a 26 de janeiro de 2023. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, com um nível de confiança de 95%.
Os brasileiros seguem sendo uma das populações com o maior grau de consenso sobre as mudanças climáticas: 94% afirmam que o aquecimento global está acontecendo (96% na pesquisa anterior); 74% consideram que o fenômeno é causado por atividades humanas (eram 77% em 2020 e 2021) e somente 12% acreditam que o evento tem causas ambientais e naturais, mesma proporção observada em 2020 e 2021.
A maioria dos brasileiros também considera que há um forte consenso científico sobre o aquecimento global estar ocorrendo – 74% nesta edição, ante 76% em 2021. Aqueles que acham que os cientistas discordam sobre o assunto são 17%, e somente 7% pensam que a maioria dos estudiosos diz que o aquecimento global não está ocorrendo.
Amazônia
Praticamente todos os brasileiros foram impactados por notícias sobre a destruição da Amazônia. Na pesquisa, 99% disseram terem ouvido falar sobre queimadas na região, e a TV aberta foi a principal fonte de informação sobre o desmatamento amazônico (82%). A maior parte dos entrevistados (81%) também concorda totalmente com a afirmação de que a destruição da Amazônia ameaça o clima e o meio ambiente do planeta e 52% discordam totalmente de que o desmatamento da região é necessário para o crescimento da economia – frase com a qual apenas 20% concordam totalmente.
72% dos entrevistados afirmaram que as queimadas na Amazônia são causadas por ação humana, sendo, na opinião dos entrevistados, os madeireiros (71%) os principais responsáveis, seguidos de garimpeiros (49%) e grandes produtores rurais (44%).
A maioria dos entrevistados concorda totalmente com a afirmação de que os indígenas protegem as florestas – 57% no total, 51% entre os eleitores mais à direita e 69% entre os que se declararam de esquerda. O percentual de quem concorda com as demarcações de terras indígenas é de 53%; e 62% apoiam totalmente ou em parte a criação do Ministério dos Povos Indígenas.
Impactos
A percepção dos brasileiros de que as mudanças climáticas estão provocando eventos extremos é elevada. 93% dos que acreditam que as temperaturas estão aumentando afirmaram que o responsável por isso foi o aquecimento global. E esta também é a causa para 88% dos que observam diminuição de chuvas nos últimos anos, para 86% dos que dizem que os desastres naturais estão aumentando e para 80% dos que acreditam que as chuvas estão aumentando.
Todas essas percepções coincidem com o que dizem os cientistas do clima. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU, as mudanças climáticas já estão alterando profundamente os ciclos da água no Brasil, ora contribuindo com chuvas extremas, ora agravando estiagens. Ao mesmo tempo, a temperatura no país sobe mais do que a média global, o que também favorece desastres naturais.
O aumento da poluição do ar (gerada pelos combustíveis fósseis, queimadas e desmatamento), o encarecimento da conta de luz (pelo uso de mais termelétricas movidas a combustíveis fósseis), e o aumento do preço dos alimentos também são consequências diretas do aquecimento global. Entretanto, a percepção sobre essa conexão é sensivelmente menor: 74% dos brasileiros que acham que a poluição do ar está aumentando associam ao aquecimento global a poluição atmosférica; 66% dos que acreditam no aumento do preço da eletricidade dos últimos anos relaciona este aumento com a crise climática, e somente 56% dos brasileiros que observaram o encarecimento da comida associam a mudança do clima com este efeito.
Resíduos sólidos
A pesquisa também revela um gargalo na gestão de resíduos sólidos no país: embora os índices de reciclagem de lixo no Brasil sejam muito baixos – apenas 4% segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) –, 74% dos entrevistados disseram que separam os materiais para coleta seletiva. Esta proporção se manteve estável em relação às edições anteriores da pesquisa.
Soluções
Os brasileiros confiam principalmente no poder público para combater as mudanças climáticas e seus impactos: 36% disseram que os governos são os que podem contribuir mais para resolver o problema das mudanças climáticas; 32% mencionam as empresas, 23% a atitude dos cidadãos e apenas 8% acreditam que ações de ONGs ambientalistas podem contribuir mais para resolver o problema.
Nesta edição, 50% dos brasileiros afirmaram já terem votado em algum político por suas propostas ambientais – crescimento em relação a 2021 (45%). Esta resposta foi mais comum entre os eleitores que se declaram de esquerda (68%), com ensino superior (61%) e das classes A e B (56%).
54% dos brasileiros disseram que o governo do presidente Lula será melhor do que o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro na área ambiental. Notadamente este percentual varia de acordo com o posicionamento no espectro político e entre as regiões do Brasil: para os eleitores de esquerda, 88% esperam melhora; o mesmo para 66% dos moradores do Nordeste; e 62% entre a população das classes D e E.
Fabro Steibel, diretor-executivo do ITS, destaca: “pelo terceiro ano consecutivo, a preocupação segue altíssima. A queda na preocupação, em relação à edição anterior, veio no mesmo timing da mudança de governo, o que pode indicar que pessoas estão menos preocupadas por terem mais confiança que será uma prioridade, mas isso verificaremos com o tempo.”
Anthony Leiserowitz, diretor do Programa de Comunicação sobre Mudança Climática da Universidade de Yale, enfatiza: “Apesar de suas diferenças políticas, a grande maioria dos brasileiros concorda que a mudança climática está acontecendo, é causada pelo homem, tendo sérios impactos, afetando a saúde e o bem-estar de suas próprias famílias”.
Rosi Rosendo, diretora de inteligência e insights do IPEC, disse: “A nova edição da pesquisa demonstra que a questão ambiental segue preocupando os brasileiros, tanto no que diz respeito ao aquecimento global quanto no que se refere especificamente à Amazônia. A pesquisa também confirma que uma grande parcela da população identifica os governos como agentes que podem contribuir mais para reduzir os problemas do aquecimento global, o que demonstra a relevância das políticas públicas e ações governamentais no tema frente à população.”
(Com informações da Assessoria de Imprensa)