Nos últimos 47 anos, a agropecuária cresceu em média 3,22% ao ano. Entre os censos de 2006 e 2017, a taxa de crescimento aproximou-se de 4,3%, superando Estados Unidos (1,9%), China (3,3%), Chile (3,1%) e Argentina (2,7%).
De 1995 a 2017, o Valor Bruto da Produção dobrou, sendo que a tecnologia foi responsável por mais de 60% desse crescimento.
Esses são alguns dos dados do livro Uma Jornada Pelos Contrastes do Brasil: Cem anos do Censo Agropecuário, lançado ontem, terça-feira (1º), pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Com a participação de 64 pesquisadores de diversas instituições, o livro traz um diagnóstico atual da agropecuária brasileira a partir de uma análise histórica e de informações estatísticas coletadas pelo censo agropecuário, realizado no país desde 1920.
A publicação foi organizada pelos pesquisadores José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho (diretor de Programa do Mapa) e José Garcia Gasques (coordenador-geral de Políticas e Informações do Mapa), que dividiram as análises em cinco temas: produção e renda, produtividade e inovação, agricultura familiar, políticas públicas e sustentabilidade produtiva.
No lançamento virtual do livro, a ministra Tereza Cristina reforçou que os dados serão fundamentais para o planejamento da agropecuária do futuro. “Precisamos de inteligência estratégica para crescer, planejar o futuro da nossa bem-sucedida agropecuária brasileira”.
Ela destacou os desafios apontados pelo livro, como facilitar o acesso de pequenos e médios produtores ao crédito rural e ampliação da oferta da assistência técnica aos agricultores familiares.
“Precisamos perseguir para que o crédito rural seja cada vez mais inclusivo e que traga cada vez mais rena, benefícios para aqueles que estão no campo. A assistência técnica, ainda não conseguimos sair do patamar de 17%. Precisamos atingir um percentual cada vez maior de assistência técnica, principalmente no Nordeste, onde é essencial inclui-la nas políticas públicas”.
O presidente do Ipea, Carlos von Doellinger, ressaltou a participação cada vez maior do setor na economia brasileira. Segundo ele, estimativas do instituto apontam que as cadeias produtivas do agro (produção, armazenagem, comercialização e etc) podem chegar a 25% do PIB. “O agro é que vai fazer o futuro do Brasil, está mostrando serviço e é onde estão nossas vantagens competitivas e que estamos sabendo aproveitar”.
Já a presidente do IBGE, Susana Guerra, destacou o comprometimento da instituição com a realização dos censos agropecuários, fundamentais para orientar as políticas agrícolas.
“Essa é a missão do IBGE, retratar o Brasil com informações necessárias ao conhecimento da sua realidade e exercício da cidadania que se mostra com muita clareza no caso do Censo Agropecuário. As dimensões sociais, econômicas e ambientais da produção agropecuária brasileira são apresentadas para sociedade para serem analisadas em uma única fonte de dados”.
Tecnologia e produtividade
Um dos capítulos do livro mostra como a tecnologia transformou a agropecuária brasileira em um modelo de sucesso e alavancou o Brasil, de importador de alimentos, a um dos principais players no cenário agrícola mundial.
Nos anos de 1995 e 1996, a tecnologia respondia por 50,6% do total da produção do agro, ao lado de 31,3% do uso da mão de obra e 18,1%, da terra. Em 2006, esse percentual passou para 56,8% e, em 2017, saltou para 60,6%.
“O setor caminha muito rápido. A agricultura está se especializando em produtos de alto valor agregado e de inovação tecnológica”, destacou José Garcia Gasques, citando como exemplo o desenvolvimento de variedades de sementes mais adaptadas aos diferentes tipos de solo e clima do país.
No lançamento do livro, José Eustáquio Vieira Filho destacou outros dados que demonstram a evolução da agropecuária. “Em 1920, contabilizaram-se 648 mil estabelecimentos. De outro, em 2017, havia em torno de 5 milhões de estabelecimentos produtivos. Nesse período, a área de produção subiu de 175 milhões para cerca de 351 milhões de hectares. A população ocupada mais do que dobrou, chegando a 15 milhões de pessoas empregadas no campo”.
A mudança na frota de tratores é outro indicador da modernização do setor. A oferta de máquinas agrícolas cresceu no país junto com o avanço da soja e do milho a partir da década de 1960, com o surgimento de variedades dos grãos mais adaptadas ao clima e condições do país.
“A mecanização, mensurada em tratores por hectare, cresceu significativamente entre 1970 e 2017, de 4,88 tratores por mil hectares, na primeira data, para 17,08 tratores por mil hectares, no segundo período, demonstrando um vigoroso processo de mecanização do campo brasileiro”, afirmam os autores do capítulo 10.
Com adoção de máquinas e práticas mais modernas, o produtor rural também viu sua renda bruta crescer e os custos reduzirem. Os pesquisadores apontam que o desafio agora é a difusão das soluções inovadoras para todos os produtores rurais do país, de pequeno, médio e grande porte.
Sustentabilidade
No quesito sustentabilidade, o livro traz uma análise sobre a adoção do Sistema Plantio Direto (SPD) no país. O plantio direto é uma alternativa tecnológica para aumentar a produtividade agrícola e minimizar a emissão dos gases de efeito estufa.
No plantio direto, é mantida a cobertura permanente do solo com resíduos vegetais (palhada) ou plantas vivas por mais tempo possível, as culturas são diversificadas ampliando a biodiversidade, uso de insumos de forma precisa e controle do tráfego de máquinas e equipamentos agrícolas.
Entre os censos agropecuários de 2006 e 2017, a área total com plantio direto passou de 17,9 milhões para 33,1 milhões de hectares (crescimento de 84,9%). Quanto aos estabelecimentos rurais com SPD, a expansão foi de 9,2%, de 506,7 mil para 553,4 mil.
O crescimento da área com o sistema foi percebido principalmente no Centro-Oeste, Sul e Sudeste. “A evolução da adoção do plantio direto entre os dois censos agropecuários está associada à maior proporção de lavouras temporárias; e ao maior acesso aos insumos de produção, crédito e assistência técnica”, diz trecho do capítulo 28. Os autores do capítulo sugerem maior acesso dos produtores ao financiamento rural e assistência técnica para o avanço do plantio direto.