A compreensão do cérebro humano é o assunto que mais interessa o neurobiólogo espanhol Rafael Yuste. Ele é reconhecido como uma figura proeminente no campo da neurociência. Além disso, Yuste emergiu como um candidato forte ao Prêmio Nobel devido às suas contribuições significativas para a neurotecnologia.
A busca pelo desenvolvimento da mente humana e a preocupação com dados
Diretor do Centro de Neurotecnologia da Universidade de Columbia, Yuste é um dos líderes da Iniciativa Brain. A Brain foi impulsionada pelo ex-presidente Barack Obama, visando desenvolver técnicas que ajudem na compreensão do cérebro humano.
Além disso, Yuste é um dos fundadores da Fundação Neurorights, que defende a expansão dos direitos humanos. O objetivo é salvaguardar as pessoas contra o potencial uso indevido de neurotecnologias.
Em uma entrevista à Agência Brasil, Yuste destacou a importância de proteger os dados obtidos por meio dessas tecnologias. Ele propõe o “direito à privacidade mental” para evitar a decodificação não autorizada dos “neurodados”.
Explorando as neurotecnologias
Segundo Yuste explicou que esses métodos e dispositivos são usados para registrar ou modificar a atividade cerebral. Ele mencionou exemplos de implantes cerebrais e dispositivos não invasivos que já estão em uso clínico e comercial.
Investimento em neurotecnologias: motivações e perspectivas
Sobre os motivos por trás do investimento significativo em neurotecnologias, Yuste identificou três razões principais: avanços científicos para compreensão do cérebro humano, aplicações clínicas no diagnóstico e tratamento de doenças mentais, e oportunidades econômicas e militares que essas tecnologias oferecem.
Ele enfatizou que o cérebro é crucial para entender a mente humana e que as novas tecnologias permitirão decifrar e, em alguns casos, alterar a atividade cerebral. Além disso, destacou o potencial das neurotecnologias para desenvolver diagnósticos e terapias mais eficazes para doenças neurológicas.
Desafios éticos e sociais nas neurotecnologias: uma perspectiva especializada
Os especialistas sobre compreensão do cérebro humano alertam para os novos dilemas éticos e sociais que surgem com o avanço das neurotecnologias. Em uma reunião realizada na Universidade Columbia em 2017, conhecida como Grupo de Morningside, se identificaram cinco aspectos críticos que exigem atenção especial em relação ao uso não regulamentado dessas tecnologias.
O primeiro desses aspectos é o direito à privacidade mental, que visa proteger as informações cerebrais (neurodados) contra decodificação e uso não autorizados.
O segundo aspecto é o direito à identidade pessoal, que busca preservar a individualidade e a consciência diante do uso da neurotecnologia.
O terceiro é o direito ao livre-arbítrio, garantindo a autonomia das escolhas sem influências externas.
O quarto é o direito ao acesso equitativo às tecnologias de aprimoramento cognitivo, visando evitar desigualdades decorrentes do acesso desigual a essas tecnologias.
Por fim, o quinto aspecto diz respeito à proteção contra a discriminação algorítmica, impedindo que os algoritmos das neurotecnologias injetem viés discriminatório nos cérebros das pessoas.
Juramento Tecnocrático
Yuste propõe a adoção de um Juramento Tecnocrático semelhante ao Juramento de Hipócrates na medicina. O objetivo é garantir que cientistas e empresas comprometam-se a usar as neurotecnologias para o benefício das pessoas, seguindo padrões éticos rigorosos.
Ele enfatiza que a regulamentação dos neurodireitos não devem inibir o desenvolvimento das neurotecnologias, mas sim garantir a proteção dos dados cerebrais com o mesmo cuidado que as informações médicas. O especialista destaca a necessidade de inspeção regulatória e a falta de proteção observada nos contratos de empresas de neurotecnologia.
O futuro das neurotecnologias
Apesar dos riscos, Yuste é otimista quanto ao potencial das neurotecnologias para a compreensão do cérebro humano e, sobretudo, para ajudar pacientes com doenças neurológicas e mentais. Ele acredita que as possibilidades positivas superam os riscos, desde que essas tecnologias operem de maneira ética e responsável.
Fonte: Exame