Alimentar o planeta com sustentabilidade dependerá de inovação

Alimentar a população do planeta sem esgotar seus recursos é um desafio bem mais complexo do que simplesmente oferecer soluções inovadoras ao mercado. Essa é uma das conclusões de estudo realizadas por um grupo de 48 cientistas de 13 países publicado na revista Nature Food.

Os cientistas mostraram que a adoção de tecnologias não depende somente dos trabalhos nos laboratórios, mas necessita de uma relação de múltiplos atores envolvidos. Os sistemas produtivos devem ser olhados em sua totalidade, da produção no campo até a gestão de desperdício nas casas, passando pela indústria, trabalhadores, investidores, governos e consumidores.

“A simples melhoria incremental contínua, como pequenos aumentos nas produções de lavouras, criações e indústrias, não será suficiente para tornar os sistemas alimentares globais capazes de alimentar a crescente população mundial de maneira sustentável”, relata o pesquisador da Embrapa Maurício Antônio Lopes, único brasileiro a participar do estudo. “Em vez disso, será necessária uma transformação radical do sistema alimentar”, alerta Lopes, que foi presidente da Empresa (2012 a 2019) e atua hoje na Embrapa Agroenergia.

Para chegar às conclusões, os cientistas fizeram um detalhamento de tecnologias relacionadas ao setor desde o período Neolítico (entre 8 mil a 5 mil anos antes de Cristo) até o presente, avaliando seus impactos positivos e negativos. Eles também listaram 75 tecnologias em desenvolvimento antecipadas para as próximas décadas e as caracterizaram em detalhes.

Temas como esses fizeram parte: impressão molecular, internet das coisas, nano-drones, sequenciamento genômico, nanofertilizantes, impressão 3D e outros. Eles foram catalogados de acordo com a escala TRL, metodologia que avalia o grau de maturidade de cada tecnologia. A partir daí, os cientistas propuseram oito fatores capazes de acelerar a transição para um sistema alimentar mais sustentável (veja quadro abaixo). “O artigo faz uma abordagem equilibrada da dimensão tecnológica e das demais dimensões transformadoras ou aceleradoras das mudanças pretendidas com a tecnologia”, resume Lopes.

Embora o estudo se concentre no potencial transformador das tecnologias, os autores reconhecem que a inovação, por si só, não é suficiente para transformar os sistemas alimentares. “A transformação do sistema de produção de alimentos não será puramente tecnológica. No centro desse processo está o formato de inovação que envolve mudanças profundas nos diversos componentes do sistema (tecnologias, infraestrutura, habilidades e capacitação) e uma ampla reforma de valores, regulações, políticas, mercado e governança envolvida”, declara o artigo.

Muitas tecnologias atuais apresentam forte potencial de promover mudanças importantes. Porém, isso não garante que sejam adotadas ou, se o forem, que surtam os efeitos esperados. Por isso, uma das conclusões do trabalho é que os esforços para acelerar as mudanças tecnológicas devem estar alinhados com os processos políticos e sociais. “Eles podem tanto impedir como catalisar os sistemas de inovação”, alertam os cientistas.

Esse amplo acordo, será crucial para a evolução dos sistemas produtivos, uma vez que a produção de alimentos envolve preocupações éticas e ambientais de muitos grupos. É um caminho complexo, mas que vale a pena empreender, de acordo com os autores. A adoção simultânea de várias tecnologias pode levar a avanços na sustentabilidade, redução de desperdício de alimentos, melhorias no bem-estar humano e ainda criação de novas oportunidades locais de negócios, muitos deles ligados à bioeconomia.

Além disso, os pesquisadores listaram oito fatores capazes de promover um fluxo virtuoso de inovações que acelere a transformação do sistema alimentar mundial aumentando sua produtividade e garantindo sua sustentabilidade. São elas: construção de confiança; transformação de mentalidades; adesão social e diálogo com os atores envolvidos; garantias de políticas e de regulamentações para as mudanças; criação de incentivos para o mercado; proteção contra efeitos indiretos indesejados; estabilidade no financiamento e desenvolvimento de vias de transformação.

FONTE: EMBRAPA

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